Monday, April 9, 2018

O POETINHA DESTA SEGUNDA FEZ 99 ANOS DIA 24 DE MARÇO, E SEGUE ESCREVENDO POEMAS E DANDO EXPEDIENTE NA CITY LIGHTS, SUA LIVRARIA E EDITORA EM SAN FRANCISCO, CAL.



O OLHO DO POETA OBSCENO VENDO...

O olho do poeta obsceno vendo

vê a superfície do mundo redondo
com seus telhados bêbados
e pássaros de pau nos varais
e suas fêmeas e machos feitos de barro
com pernas em fogo e peitos em botão
em camas rolantes e suas árvores de mistérios
e seus parques de domingos no parque
e estátuas sem fala e seus Estados Unidos
com suas cidades fantasmas
e Ilhas Ellis vazias
e sua paisagem surrealista de
pradarias estúpidas
supermercados subúrbios
cemitérios com calefação
e catedrais que protestam
um mundo à prova de beijo um mundo de
tampas de privada e táxis
caubóis de butique e virgens de Las Vegas índios sem terra e madames loucas por cinema
senadores anti-romanos e conformistas conformados
e todos os outros fragmentos desbotados
do sonho imigrante real demais
e disperso
entre esse pessoal que toma banho de sol

[Tradução: Paulo Leminski]



THE POET'S EYE OBSCENELY SEEING...

The poet's eye osbcenely seeing
sees the surface of thc round world
with its drunk rooftops
and wooden oiseaux on clotheslines
and its clay males and females
with hot legs and rosebud breasts
in rollaway beds
and its trees full of mysteries
and its Sunday parks and speechless statues
and its America
with its ghost towns and empty Ellis Islands
and its surrealist landscape of
mindless prairíes
super-market suburbs
stemheated cemeteries
and protesting cathedrals
a kissproof world of plastic toiletseats tampax and taxis
drugged store cowboys and Ias vegas virgins
disowned indians and cinemad matrons
unroman senators and conscientious non-objectors
and all the other fatal shorrt-up fragments
of the immigrant's dream come too true
and mislaid
among the sunbathers



Lawrence Ferlinghetti nasceu
em Yonkers, Nova York, em 1919.
Foi criado na França,
e, quando voltou para os Estados Unidos,
ingressou na University of North Carolina,
onde estudou jornalismo.
Publicou suas primeiras histórias na Carolina Magazine.
Serviu durante a Segunda Guerra Mundial,
participando, inclusive, da invasão da Normandia.
Logo após a guerra trabalhou na revista Time, e então voltou a estudar,
primeiro na Columbia University,
onde fez mestrado em Literatura Inglesa,
e depois na Sorbonne, onde se doutorou.
Ao voltar para os EUA em 1951,
instalou-se em São Francisco
e passou a dar aulas de francês,
traduzir, pintar e fazer crítica de arte.
As primeiras traduções foram publicadas
na revista cultural City Lights
por Peter D. Martin, que em 1953 se tornaria
seu sócio na antológica livraria City Lights.
Um ano depois da saída de Martin,
Ferlinghetti fundou a editora City Lights,
pela qual publicou seu primeiro livro, "Pictures of the Gone World",
primeiro volume da Pocket Poets Series.
O quarto número dessa coleção
foi o emblemático "Uivo", de Allen Ginsberg,
e a partir de então a editora ficou conhecida
por publicar os grandes autores beat,
como Jack Kerouac, Gregory Corso e William Burroughs.
Porém, a publicação de Uivo trouxe problemas para Ferlinghetti,
que foi preso e acusado de obscenidade.
O julgamento (favorável à editora)
só trouxe mais publicidade
para os autores beat e para a livraria,
que há 64 anos continua sendo
um ponto de encontro de escritores,
artistas e intelectuais em San Francisco.
A poesia de Ferlinghetti tem como temas principais
a beleza do mundo natural,
o tragicômico da vida do homem comum,
a questão do indivíduo na sociedade de massa
e o sonho – e a frustração – da democracia.
Sua obra desafia a definição de arte
e também o papel do artista no mundo,
e conclama os outros escritores
a se engajarem na vida política e social.
Ferlinghetti recebeu inúmeros prêmios
ao longo de sua longa carreira literária,
continua escrevendo e publicando até hoje
foi eleito em 2003 para a prestigiosa
American Academy of Arts and Letters.


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