Monday, February 5, 2018

RUAS DE SÃO PAULO (um conto de Germano Quaresma)



Sentei pra almoçar num boteco parisiense da Barra Funda, daqueles de cadeira na calçada. Na mesa contígua, um senhor, chapéu de couro ao lado, que homem de respeito tira o chapéu na refeição, almoçava um sarapatel. Gostei da ideia, pedi um também, com Pitu.

Um rapaz simplório vinha pela rua do Bosque, procurava não sei que estabelecimento, só tinha o nome da rua. Dirigiu-se ao vaqueiro:

"Sô conhece a rua Geme Rola?"

Ele se levantou, colocou o chapéu.

"Tome vergonha, cabra safado."

"Mas o homem ali falou que era essa a rua."

O vaqueiro dava mais uma descompostura no rapaz quando o motorista do táxi, palito no entredentes, atravessou a conversa:

"É do outro lado da Marquês, entra aqui, vira ali etc."

Foi o homem perdido na direção indicada. Vaqueiro me olhou, um irmão de sarapatel e responsa, grunhiu.

"Isso é rua de cabra safado."

Depois de café e palito, de forma a fazer o quilo e produzir um bolo fecal de cabra macho resolvi seguir a indicação do taxista (sim, eu prestara atenção pra isso) e fui conhecer a tal rua.

Assim foi que descobri a rua James Holland, Barra Funda, São Paulo SP o CEP não sei.

Germano Quaresma, ou Manuel Herzog,
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de "Brincadeira Surrealista".
É autor dos romances
"A Jaca do Cemitério É Mais Doce" (2017),
"Dec(ad)ência" (2016), "O Evangelista" (2015)
e "Companhia Brasileira de Alquimia" (2013),
além dos livros de poemas
"6 Sonetos D’amor em Branco e Preto" (2016)
e "A Comédia de Alissia Bloom" (2014)

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