Friday, September 22, 2017

COISAS DO BRASIL: PROCURA-SE UM BOM FANTASMA (por Álvaro Carvalho Jr.)


Procura-se um fantasma. Mas não um fantasma comum: um lençol branco com dois olhos negros saracoteando por corredores escuros. Precisamos de um que venha substituir um exército de mortos-vivos que vêm nos infernizando por muitos anos. Eles estão perambulando em todas as direções, por todo País, particularmente Brasília, arrastando suas correntes malditas e infernizando nossas vidas. É preciso dar um fim nisso...

Esses mortos-vivos têm uma resistência incrível. Multiplicam-se como a velocidade dos leporíados; conhecem tudo de hereditariedade, tanto que seus filhos e filhas seguem seus passos sem pestanejar e repetem os mesmos desmandos de seus pais sem a menor cerimônia. Isso sem contar com a mania que têm de distribuir cargos a torto e a direito para familiares, amantes, agregados e afins.

Não poderemos ter, por exemplo, um fantasma trágico como o da Ópera. Não duraria muito tempo no meio de tamanhas raposas mortas-vivas. Sentimentalismo, baixa auto-estima e, um sério empecílho: fiel demais a um grande amor, coisa que praticamente não existe entre os mortos vivos.

Talvez a melhor solução fosse um Bras Cubas. Esse incrível fantasma/autor, que nasceu da maravilhosa cabeça de Machado de Assis. Ele poderia destilar sua ironia, seu sarcasmo e sua sagacidade no meio dessa cambada de mortos vivos e desmoralizá-los, transformá-los num ridículo tão grande que acabariam no descrédito e iniciariam uma espécie de auto-destruição, livrando nos desse martírio infindável que é a história da política brasileira. O risco é Bras Cubas aderir aos mortos-vivos, o que seria uma tragédia total. Outra boa opção seria o Cavaleiro sem Cabeça, uma solução bem mais radical, violenta e estúpida. Mas aí os Direitos Humanos...

Assim, a escolha de um bom fantasma é quase impossível. Não precisamos de um Sir Simon, o imortal fantasma de Canterville, criado por Oscar Wilde, e que é atropelado pela família Ortis, americanos práticos e sem qualquer senso de espiritualidade. No meio dos mortos vivos de Brasilia, o assombrado sairia assombrado e, pior, desmoralizado. Muito menos nos ajudaria um fantasma como Rei Hamlet, da Dinamarca, um sujeito cheio de problemas, baixa auto estima, complicado e que passa o tempo inteiro na dúvida:”ser ou não ser, eis a questão...”.Nem seria ouvido, mesmo exigindo questão de ordem...

Precisamos, isso sim, de um fantasma que tenha a capacidade de unir este País. De jogar no lixo, definitivamente, jargões como “nóis e eles”, como se um país pudesse ser tratado dessa maneira. Um fantasma que faça as reformas necessárias para que nossa economia deixe de ser uma caixa de Pandora que, aberta, transforma-se numa tragédia. Precisamos de alguém sério, mais cambado para o pragmatismo do que para a ideologia.

Não precisamos de um Fantasma de Natal (Dickens é um saco...) mas, talvez, nossa grande solução seja um Vadinho, o imortal fantasma de Jorge Amado que satisfaz Sônia Braga mesmo depois de morto; que quebra tabus e passa por cima de dogmas. Irônico, beberrão, farrista e irreverente, talvez ele seja o cara que possa trazer de volta aquele Brasil alegre e feliz e enterrar este Brasil atual: chato, que defende o politicamente correto, onde tudo pode se transformar numa enorme guerra de palavras e onde ideologia começa a superar a razão. Sim, talvez o grande Vadinho seja nossa solução...quem sabe?

Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
Colabora com LEVA UM CASAQUINHO
quando quer e quando sente vontade,
pois, como dissemos acima,
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado.

 


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