Friday, October 14, 2016

CAFÉ E BOM DIA #39 (por Carlos Eduardo Brizolinha)

pinturas de Bob Dylan
da Exposição New Orleans


Palavras do grande poeta Marcelo Ariel: "E o Prêmio Nobel de Literatura de 2016 foi para o autor de 'Tarantula' e de 'Chronicles', Tarantula foi traduzido por Paulo Henriques Britto, o mesmo tradutor de Thomas Pynchon e lançado pela Editora Brasiliense e Crônicas lançado no Brasil pela Editora Planeta_____ Detesto purismos, preconceitos e patrulhamentos, a poesia nasceu como uma irmã siamesa da canção, basta uma pesquisa em trovadorismo e o entendimento das raízes da palavra ' Soneto', este Nobel se não fosse para Bob Dylan, poderia ter ido para: Leonard Cohen ou Patti Smith ou anteriormente poderia ter sido entregue para John Cage ou Lou Reed. Existe é claro , uma diferença entre Bob Dylan e Dylan Thomas, mas o próprio Dylan Thomas consideraria esta diferença infinitesimal, como é infinitesimal a diferença entre Caetano Veloso e Wally Salomão. Aos que se sentiram indignados com a escolha da Academia Sueca, lembro que este mesmo tipo de preconceito disfarçado de indignação , ecoou quando os dramaturgos Dario Fo e Harold Pinter foram premiados, disseram os patrulheiros da época que eles não estavam á altura de um Thomas Mann ou de um Andre Gide, Pinter respondeu que ' Era apenas um artesão da palavra, sem muita importância e com uma fama desmedida e enganadora, que suas peças poderiam ser lidas como o que são e não como algo menor do que são e que achava uma grande injustiça o Nobel não ter sido concedido ao também dramaturgo William Shakespeare' , guardadas as proporções, a comparação é um péssimo artifício, evoco a paráfrase, as canções de Bob Dylan podem ser lidas pelo que são e não como algo menor do que aquilo que são e acho uma grande injustiça que antes dele o Nobel não tenha sido concedido para Cole Porter ou Stephen Sondheim."


Muitos anos atrás conheci uns meninos envolvidos com HQ e foi por eles que li H. P Lovecraft, gênero literário que poucas vezes considerei ler embora tenha sido este autor descoberto por Edmund Wilson (Anos 20 e Rumo a estação Finlândia) e Louis Pawles (Despertar dos Mágicos) respeito demais os dois. Não sou fã do tema. Lovecraft criou uma imensa mitologia de Vampiros, espectros e monstros. Fez caminho popular e gerou através de gerações inúmeros autores, com isso vários esteriótipos, não há como lhe diminuir a força alucinada de sua instigante literatura. Um dos escritores que admiro, Michel Houellebecq escreveu um estudo sobre Lovecraft muito bom. Água cristalina e refrescante na floresta literária francesa que brotou aos 36 anos. O composto de Houellebecq oferece alta qualidade. Com seu primeiro livro narra a vida chata de dois programadores de computador " Qualquer que Seja " que em 1994 chamou atenção. Veio o ano de 1998 e marcando presença com comentários contundentes no campo social e nas ondas do sexo vendeu mais de 300 000 livros. Eis aí uma divisão na avaliação de Houellebecq, um grande autor na mais legítima tradição literária francesa ou um niilista inconsequente? Antes de sua estréia na literatura viveu momentos de alta depressão e estágios em clinicas psiquiátricas arrastando consigo uma relação familiar complexa que lhe levou a ser criado pela avó paterna. Me pergunto qual o fator contributivo para desmedida coragem, digo, não ver muros por onde queira andar, desconsiderando opiniões, quer favoráveis ou contrárias. Acabei de ler um artigo sobre Neil Young e jamais poderia imaginar seu apreço pelo musico e também suas poesias publicadas em 2010. Água pura e cristalina refrescando a alma. Do seu ponto de partida com Lovecraft creio que não seriam as mazelas humanas barreira para lhe impedir os passos.



8 de outubro de 2015 - "...FOI UM DOS LIVROS QUE MAIS ME DIVERTIU. O inesquecível amigo Thomé me presenteou. Na ocasião falávamos de " Candide " de Voltaire, " A Ilha dos pinguins " de Anatole France e daí veio a indicação de Flaubert BOUVARD E PÉCUCHET. Neste livro Flaubert parece ter “vivido” a experiência de seus (anti)heróis, pois ele próprio andou às voltas – como confessa a sua amiga Edma Roger des Genettes – “com mais de 1500 volumes”, lendo-os e anotando-os, para acumular um montão de fichas “com oito polegadas de altura!” Frases pinçadas em diversos respeitáveis tratados então em voga, mostram o quanto de chavões, crendices e toleimas eram tidos como ciência — anotações essas que viriam compor a 2ª parte (inacabada) do livro. Alguns dos desastres agrários, hortigranjeiros e florestais dos bonshommes de Chavignolles talvez tenham sido na prática experimentados pela inabilidade rural do grand seigneur de Canteleu-Croisset. Ele chega a passear à noite em sua horta com uma vela acesa antes de escrever a última página do primeiro capítulo, em que relata essa experiência de seus personagens. Logo se disse que Bouvard e Pécuchet eram uma réplica século-XIX das ilustres figuras de D. Quixote e Sancho Pança, cujas peripécias decorrem igualmente de um excesso de leituras cavaleirescas. Só que em Flaubert os moinhos de vento são as ciências empíricas e retrógradas, as cavalgadas pela honra e a virtude se fazem no campo das ideias. Os descobridores de semelhanças biográficas poderão dizer que Bouvard e Pécuchet são uma autocrítica da dupla Flaubert-Du Champ em suas viagens de explorações pelo Oriente e em suas discussões intermináveis a propósito de qualquer assunto. Extrapolando o terreno literário, o livro se apresenta de grande atualidade no cenário político mundial, principalmente em relação a nós, onde, por falta de planejamento e de correção administrativa, todas as iniciativas tomadas no campo das artes e ciências acabam nos melancólicos desastres dos bonshommes de Flaubert. Tiro da gaveta do ivo e ilumino a manhã com CAFÉ COLOMBIANO presenteado pela querida Simone e depois de uma generosa xícara meu sincero desejo de BOM DIA PARA TODOS.


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,

e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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